domingo, 16 de agosto de 2009

CLARICE LISPECTOR

Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer:
- E daí? EU ADORO VOAR!

sábado, 15 de agosto de 2009

AMIGOS (Vinícius de Moraes)

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles. A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.

E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências ...

A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.

Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida. Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo!

Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.

Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer ... Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos! A gente não faz amigos, reconhece-os.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

A VIDA - William Shakespeare


“Depois de algum tempo aprendes a diferença, a subtil diferença, entre dar a mão e acorrentar a alma. Aprendes que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. Começas a aprender que beijos não são contratos nem presentes, não são promessas. Começas a aceitar as tuas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança. Aprendes a construir todas as tuas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de nos pregar partidas”. Depois de algum tempo aprendes que o sol queima se ficares exposto por muito tempo. E aprendes que não importa o quanto tu te importes, algumas pessoas simplesmente não se importam... Aceitas que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai ferir-te de vez em quando e precisas perdoá-la por isso.

Aprendes que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobres que levam-se anos para construir confiança e segundos para destrui-la, e que podes fazer coisas num instante, das quais te arrependerás o resto da vida.
Aprendes que as verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que tens na vida, mas quem tens na vida. E que bons amigos são a família que nos foi permitida escolher. Aprendes que não temos que mudar de amigos se compreendermos que os amigos mudam. Percebes que o teu melhor amigo e tu podem fazer qualquer coisa juntos, ou simplesmente nada, e terem bons momentos na mesma.
Descobres que as pessoas com quem mais te importas na vida nem sempre ficarão perto de ti.
Aprendes que as circunstâncias e os ambientes têm influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começas a aprender que não te deves comparar com os outros, mas com o melhor que podes ser.
Descobres que leva-se muito tempo para se tornar a pessoa que se quer ser, e que o tempo é curto.

Aprendes que não importa onde já chegaste, mas onde estás indo, e se não sabes para onde vais, qualquer lugar serve. Aprendes que, ou controlas os teus actos ou eles te controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa o quão delicada e frágil seja uma situação, existem sempre dois lados. Aprendes que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as consequências.
Aprendes que paciência requer muita prática. Descobres que algumas vezes, a pessoa que esperas que te ponteie quando cais, é uma das poucas que te ajudam a levantar-se. Aprendes que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que aprendeste com elas, do que com quantos aniversários celebraste. Aprendes que há mais dos teus pais em ti do que supunhas.
Aprendes que nunca se deve dizer a uma criança que os sonhos dela são tontices, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso. Aprendes que quando estás com raiva tens o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de seres cruel. Descobres que só porque alguém não te ama da forma que querias que te amasse, não significa que esse alguém não te ame com tudo o que pode. Não te esqueças que existirão sempre pessoas que gostam de nós, mas simplesmente não sabem como o demonstrar. Aprendes que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes tens que aprender a perdoar-te a ti mesmo. Aprendes que com a mesma leviandade com que julgas, serás também em algum momento assim julgado. Aprendes que não importa em quantos pedaços o teu coração foi partido, o mundo não pára para que tu o consertes. Aprendes que o tempo não é algo que possa voltar atrás. Planta o teu jardim e decora a tua alma, ao invés de esperares que alguém te traga flores. E aprende que realmente podes suportar muito... Que realmente és forte, e que podes ir muito mais longe depois de pensar que não consegues mais. E que realmente a vida tem valor e que tu tens valor perante a vida


    segunda-feira, 8 de junho de 2009

    SONETO DE FIDELIDADE
    Vinicius de Moraes


    De tudo ao meu amor serei atento
    Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
    Que mesmo em face do maior encanto
    Dele se encante mais meu pensamento.

    Quero vivê-lo em cada vão momento
    E em seu louvor hei de espalhar meu canto
    E rir meu riso e derramar meu pranto
    Ao seu pesar ou seu contentamento

    E assim, quando mais tarde me procure
    Quem sabe a morte, angústia de quem vive
    Quem sabe a solidão, fim de quem ama

    Eu possa me dizer do amor (que tive):
    Que não seja imortal, posto que é chama
    Mas que seja infinito enquanto dure.


    MORAES, Vinicius de. Antologia poética. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1960. 96 p.

    quarta-feira, 27 de maio de 2009

    POR QUE AS COISAS SÃO TÃO COMPLICADAS?

    Gostar deveria ser fácil, gostoso, leve... Fico pensando em qual instante as coisas mudam e tudo fica mais difícil, mais complicado. Eu gosto de uma pessoa e quero fazê-la feliz, de preferência ao meu lado. Gostar não é doar-se por inteiro? Deixar-se levar pelo sentimento que toma conta do nosso coração? Será que ficamos com medo da queda, caso a pessoa não esteja ali para nos amparar? Será o medo que estraga as coisas?
    Escuto músicas e vejo histórias de amor que poderia ser a minha, pelas coisas que acontece dentro de mim. Amar assim é certo? É certo querer a pessoa sempre ao seu lado? Querer tê-la perto, participando de cada momento seu? Quero isso, mas ao mesmo tempo, sei que temos que ter nosso espaço, nossos momentos, nossa individualidade. Mas cadê a certeza que as coisas não mudam se passo um final de semana com meus amigos? É insegurança? Se for, ela é minha maior companheira no momento!
    Eu amo, mas penso que não sou amada. Eu amo, me entrego de corpo e alma... é querer muito se desejo ter uma pessoa que faça a mesma coisa por mim? Por que preciso dizer as coisas que me machucam? Ele não poderia adivinhar somente em olhar pra mim? Ou melhor, ele não poderia prevê meu sofrimento e evitar a qualquer custo? Será que o amor vem de mãos dadas com o sofrimento?
    Estou perdida e não me acho! Preciso ser encontrada, mas não por qualquer pessoa, mas pela pessoa que amo. Quero viver uma história de amor linda, sem sofrimento, sem tristeza ou maus momentos. E se esse amor acabar, que seja por ter se transformado em linda amizade.
    Será muita complicação? Será que sou muito complicada? Será que complico as coisas? Como me entender se dentro de mim é tudo tão confuso? Sou normal? Não sei, mas sou um ser humano que está amando e o mundo ao meu redor fica como um arco-íris, onde a cor muda de acordo com o que se passa em meu coração, em minha cabeça. Não consigo ser racional e nem sei se quero... Sei apenas que estou e quero continuar sendo honesta comigo mesma e meus sentimentos. De outra forma, não quero! Se isso é ser complicada, se isso é estar amando, então digo: SOU LOUCA, SOU CONFUSA, SOU COMPLICADA!

    Por que estou assim hoje? Por causa de orgulho, de indiferença, de ciúme, de insegurança... sei lá! Sei que é algo importante, pois não posso desprezar ou anular os meus sentimentos.